quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Diante da lei

Diante da Lei está um guarda. Vem um homem do campo e pede para entrar na Lei. Mas o guarda diz-lhe que, por enquanto, não pode autorizar-lhe a entrada. O homem considera e pergunta depois se poderá entrar mais tarde. - "É possível" - diz o guarda. - "Mas não agora!". O guarda afasta-se então da porta da Lei, aberta como sempre, e o homem curva-se para olhar lá dentro. Ao ver tal, o guarda ri-se e diz: - "Se tanto te atrai, experimenta entrar, apesar da minha proibição. Contudo, repara: sou forte. E ainda assim sou o último dos guardas. De sala para sala estão guardas cada vez mais fortes, de tal modo que não posso sequer suportar o olhar do terceiro depois de mim".
O homem do campo não esperava tantas dificuldades. A Lei havia de ser acessível a toda a gente e sempre, pensa ele. Mas, ao olhar o guarda envolvido no seu casaco forrado de peles, o nariz agudo, a barba à tártaro, longa, delgada e negra, prefere esperar até que lhe seja concedida licença para entrar. O guarda dá-lhe uma banqueta e manda-o sentar ao pé da porta, um pouco desviado. Ali fica, dias e anos. Faz diversas diligências para entrar e com as suas súplicas acaba por cansar o guarda. Este faz-lhe, de vez em quando, pequenos interrogatórios, perguntando-lhe pela pátria e por muitas outras coisas, mas são perguntas lançadas com indiferença, à semelhança dos grandes senhores, no fim, acaba sempre por dizer que não pode ainda deixá-lo entrar.O homem, que se provera bem para a viagem, emprega todos os meios custosos para subornar o guarda. Esse aceita tudo mas diz sempre: - "Aceito apenas para que te convenças que nada omitiste".
Durante anos seguidos, quase ininterruptamente, o homem observa o guarda. Esquece os outros e aquele afigura-se-lhe o único obstáculo à entrada na Lei. Nos primeiros anos diz mal da sua sorte, em alto e bom som e depois, ao envelhecer, limita-se a resmungar entre dentes. Torna-se infantil, e como ao fim de tanto examinar o guarda durante anos lhe conhece até as pulgas das peles que ele veste, pede também às pulgas que o ajudem a demover o guarda. Por fim, enfraquece-lhe a vista e acaba por não saber se está escuro em seu redor ou se os olhos o enganam. Mas ainda apercebe, no meio da escuridão, um clarão que eternamente cintila por sobre a porta da Lei. Agora a morte está próxima.
Antes de morrer, acumulam-se na sua cabeça as experiências de tantos anos, que vão todas culminar numa pergunta que ainda não fez ao guarda. Faz-lhe um pequeno sinal, pois não pode mover o seu corpo já arrefecido. O guarda da porta tem de se inclinar até muito baixo porque a diferença de alturas acentuou-se ainda mais em detrimento do homem do campo. - "Que queres tu saber ainda?", pergunta o guarda. - "És insaciável".
- "Se todos aspiram a Lei", disse o homem. - "Como é que, durante todos esses anos, ninguém mais, senão eu, pediu para entrar?". O guarda da porta, apercebendo-se de que o homem estava no fim, grita-lhe ao ouvido quase inerte: - "Aqui ninguém mais, senão tu, podia entrar, porque só para ti era feita esta porta. Agora vou-me embora e fecho-a".

(Franz Kafka)

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Delírios Noturnos

Dentro de uma capsula vazia, se esconde o mistério das dores terrenas
Dorme um pequeno ser que repousa sobre a letargia e o sofrimento
Ele esconde a luz limitada pelo silêncio dos objetos que se movem e dos passos que proseguem
Alimenta-se da tristeza manifesta pela solidão que reina
O escuro é parte do ambiente que permanece durante todo o dia

Sua única companhia são as paredes frias e ásperas
Com elas é que divide suas incertezas, suas filosofias mesquinhas e fragmento de lembranças da infância
Enquanto se encolhe na posição de um feto como quem espera a chegada ao mundo das luzes e das cores
Mesmo tendo a impressão de que jamais volte a vê-las

Consigo vinha repetindo:
O pior silêncio é aquele que nasce dos sons;
O pior escuro é aquele que brota no reflexo da luz que transcende da janela;
A pior tristeza é aquela que transborda dos risos incontidos;
A pior solidão é aquela que é gerada pelos ruídos da casa cheia.

Assim é o caração de um poeta desconsolado.
Perdido pelas frestas de luz dos postes que invadem a imensidão do quarto vazio.
Sofre por que sabe o que acontece por dentro,
E admiti pelas palavras aquilo que habita em si.
Ele contempla a tortura que rompe com suas veias e faz vazar o sangue.

Até que adormeça com o peito cortado em lágrimas.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Medo


Aposto que só de ler o nome que dei ao meu texto de hoje a maioria dos leitores, pelo menos, ficou curiosíssima pra saber o que é que eu iria escrever logo abaixo. Pois bem, sobre aquilo que todos fugimos mas que nos persegue a todo instante. Esse sentimento impiedoso nos assola principalmente com as manchetes de jornais e revistas, com imagens impactantes e com palavrinhas que nos deixam profundamente incomodados. Mas o que venho escrever neste post desta vez não é sobre o medo da violência e da criminaidade, até porque esse tema foi bastante discutido e já está até desgastado. Hoje, quero discutir sobre o medo que nos impede de viver livremente, da forma como queremos. E falo mas especificamente sobre o medo de se expressar. Este blog foi uma das formas que encotrei de me libertar de algumas dificuldades. Constantemente somos monitorados e forçados a escrever da forma "correta" para os professores. Isso, de certa forma, foi me limitando um pouco. A menina que antes adorava fazer poesia, escrever crônicas e criar versinhos no roda-pé da folha do caderno se tornou o "robozinho" programado pra escrever textos concisos, formais, e restritos a quatro parágrafos e a uma determiado número de linhas. E os meus pensamentos viraram passarinhos tristes dentro de uma gaiola, com o tempo foram se acostumando a aquele lugarzinho pequeno, que de vez em quando jogavam alpiste pra continuar cantando. Mas, por favor, caros leitores, não quero com isso dizer que devemos abolir tudo o que nossa língua tem a nos oferecer e virar estrangeiros dentro de nosso próprio país. Falo aqui sobre a restrição dos pensamentos e tentativa de tornar tudo o que escrevemos neutro (o que é totalmente impossível), ou que esteja de acordo com o que uma banca de avaliadores ou um professor deseja ler. Por tanto já chega! Não quero mais os cantos tristes! Fora o formalismo literário exigido em escolas, vestibulares e faculdades. As pessoas tem difuldades de escrever justamente porque quando abrem a gaiola elas seus pensamentos tem medo de voar! A liberdade de expressão foi garantida com o fim da ditadura mas as regras e padrões da redação nas instituições de ensino só prejudicaram aquilo que tinhamos como direito! Vamos contruir um Brasil mais criativo, vamos nos libertar das amarras e ganhar gosto pelo há de mais bonito e sincero a PALAVRA!

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Reflexão do dia

Há uns dias atrás estava lendo um texto sobre um cara muito estranho, perturbado porém brilhante chamado Nietzche. Faz pouco tempo que o conheci contudo percebi o quanto ele se sentia incomodado por viver em um mundo regido de regras, moralismos e tradições. Infelizmente ele sofria o mesmo mal que todos os homens que não foram domesticados - o inconformismo. Embora tivesse muitos problemas por não aceitar as condições que era submetida a sociedade ocidental ele guardava os pensamentos mas lindos que uma mente revoltada e confusa poderia ter. Uma de suas filosofias, denominada de Retorno que contrariava o velho pensamento de viver cada momento como se fosse o último e defendia que se deveria viver da forma que deseja viver novamente, foi uma das coisas mas sábias que já ouvi. Tornar uma vida mais feliz é simplesmente fazer com que todos os acontecimentos sejam especiais e desejar que se repitam infinitamente, mesmo os mais simples. Mas por que é que as pessoas tornam as coisas tão complicadas? Por que tornam alguns momentos tão desagradáveis?? Talvez seja por isso que estão sempre tristes e aborrecidas. Porque os momentos ruins acabam se repetindo. Mas não estou aqui pra escrever sobre auto-ajuda, até porque apredi a detestar esse gênero depois que entrei para faculdade. Foi apenas uma reflexão. Bem...e já que estamos falando em momentos da vida fiz uns versinhos. Desculpe pelo tamanho e a falta de profundidade mas é que já procurei em todas as gavetas e caixinhas em minha casa e não acho a bendita da minha inspiração!



Aconteceu.

Estranho, eu não percebi, nem bateu na porta e já foi entrando com os passos rápidos e bem objetivos.

Eu, boba de espanto olhava apática aquilo que estava diante de meus olhos.

E por um instante desapareceu, foi embora sem deixar nenhum vestigio.

E o pior é que levou consigo o meu sorriso.

Triste, permaneci sentada da mesma forma que me encontrava antes.

Que injusto!

Os dias vão embora nos deixam apenas as angústias pra contar.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Falo a língua dos loucos



Quem é que nunca teve um Marcelo, um Felipe, um Ricardo, um Rafael, um Júlio ou um Tiago na vida? Tudo bem pode ser uma Raquel, uma Fernanda, uma Natália, uma Ana, uma Patrícia ou uma Aline...Paquerar é bom, mas chega uma hora que cansa! Cansa na hora que você percebe que ter 10 pessoas ao mesmo tempo é o mesmo que não ter nenhuma, e ter apenas uma, é o mesmo que possuir 10 ao mesmo tempo!A "fila" anda, a coleção de "figurinhas" cresce, a conta de telefone é sempre altíssima. Mas e ai? O que isso te acrescenta?Nessas horas sempre surge aquela tradicional perguntinha: Por que aquela pessoa pela qual você trocaria qualquer programa por um simples filme com pipoca abraçadinho no sofá da sala não despenca logo na sua vida???Se o tal "amor" é impontual e imprevisível que se dane!Não adianta: as pessoas são impacientes! São e sempre vão ser! Tem gente que diz que não é... "Eu não sou ansioso, as coisas acontecem quando tem que acontecer".Mentira! Por dentro todo ser humano é igual: impaciente, sonhador, iludido... Jura de pé junto que não, mas vive sempre em busca da famosa cara metade! Pode dar o nome que quiser: amor, alma gêmea, par perfeito, a outra metade da laranja... No fim dá tudo no mesmo.Pode soar brega, cafona... Mas é a realidade. Inclusive o assunto "amor" é sempre cafonérrimo. Acredito que o status de cafona surgiu porque a grande maioria das pessoas nunca teve a oportunidade de viver um grande amor.Poucas pessoas experimentaram nesta vida a sensação de sonhar acordada, de dormir do lado do telefone, de ter os olhos brilhando, de desfilar com aquele sorriso de borboleta azul estampado no rosto...Não lembro se foi o "Wando" ou se foi o "Reginaldo Rossi" que disse em uma entrevista que se a Marisa Monte não tivesse optado pelo "Amor I love you" e que se o Caetano não tivesse dito "Tô me sentindo muito sozinho..." eles não venderiam mais nenhum disco. Não adianta, o público gosta e vibra com o brega". Não adianta tapar o sol com a peneira. Por mais que você não admita:- Você ficou triste porque o Leonardo di Caprio morreu em Titanic "e ficou feliz porque a Julia Roberts e oRichard Gere acabaram juntos em "Uma Linda Mulher".- Existe pelo menos uma música sertaneja ou um "pagodinho" que te deixe com dor de cotovelo;- Quando você está solteiro e vê um casal aos beijos e abraços no meio da rua você sente a maior inveja;- Você já se pegou escrevendo o seu nome e o da pessoa pelo qual você está apaixonada no espelho embaçado do banheiro, ou num pedacinho de papel;- Você já se viu cantando o mantra "Toca telefone toca" em alguma das sextas-feiras de sua vida, ou qualquer outro dia que seja;- Você já enfiou os pés pelas mãos alguma vez na vida e se atirou de cabeça numa "relação" sem nem perceber que você mal conhecia a outra pessoa e que com este seu jeito de agir ela te acharia um tremendo louco;- Você, assim como nos contos de fada, sonha em escutar um dia o tal "E foram felizes para sempre..." Bem, preciso continuar? Ok, acho que não...Negue o quanto quiser, mas sei que já passou por isso, e se não passou, não sabe o quanto está perdendo..."O problema de resistir a uma tentação é que você pode não ter uma segunda chance.""Falo a língua dos loucos, porque não conheço a mórbida coerência dos lúcidos"

(Luiz Fernando Veríssimo)

sábado, 25 de julho de 2009

Musa Marisa

Canta bem baixinho e traz na voz aquele passarinho escondido no tom do coração.


Sabiá que se banha no orvalho e se apoia no galho pra festejar a manhã com canto de emoção.


Faz dormir, minha musa, com a voz que me acompanha no dia de solidão.


Encha logo de acalanto aquele que em pranto tem vazio o coração.






sexta-feira, 24 de julho de 2009

Bem Vindos!

Sejam muitíssimo bem vindos ao meu blog! Quero aqui expor todos os textos e pensamentos de outros autores e meus. Peço para que não deixem de comentar, e se acharem necessário façam críticas ou mandem alguns textos que gostem ou que também tenham escrito.

Bom, e para inaugurar o blog posto uma de minhas poesias favoritas:

Via Láctea

Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso"! E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora! "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?

"E eu vos direi: "Amai para entendê-las:
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".

Olavo Bilac