sexta-feira, 14 de maio de 2010

Ensaio da Aquarela Ensandecida

O colorido quem faz sou eu.
Na arte de ser é que pinto a tela branda de coração puro.
Eu quero é mais esse carnaval dentro de mim.
Eu quero sim
Uma flor pintada de roxo na testa,
Um nariz redondo vermelho,
Uma harpa dourada roubada dos anjos.

Eu quero traços vivos no sentimento daquele que vive essa bagunça policromática .
Que ainda exista o preto e branco no meio disso tudo
Porque sem eles não se completa a paisagem
E que a fantasia se expanda e invada todos os asfaltos cinzentos e os rostos tristes.
Eu quero luzes, barulho, vento no meio dessa passagem.

Se disserem ser doença da cabeça,
Então eu tenho loucura em mim.
Pois sou fiel ao meu próprio espetáculo.
Eu dirijo, protagonizo, assisto, bato palmas e espalho alegrias.
É neste circo que vou brincando com a felicidade.
Experimento dos desatinos do amor de verdade.
Eu quero o enredo da vida pra tocar na música de fundo.

E quero uma faixa amarela escrito: “TENHO O SENTIMENTO DO MUNDO!”

sábado, 1 de maio de 2010

Metade

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

(Oswaldo Montenegro)