terça-feira, 13 de março de 2018

Diário de Bordo

Hoje, andei de bicicleta pela segunda vez entre os últimos sete dias. Já fazia um tempo que estava sem praticar este exercício. Aproveitei o convite do amigo e parti para encontrá-lo. Afinal, eu estava mesmo precisando de um pouco de equilíbrio e achei que seria uma boa metáfora para dar umas voltas por aí. A princípio, pensei nos caminhos em que poderia passar: "Quem sabe fugir da rodovia e passar pelas ruas laterais, atravessar a ponte e subir o tão temido morro até chegar ao bairro?" Passei pelas ruas traseiras, subi na bicicleta e fui como se fosse meu primeiro ensaio de voo. Aproximando-me do cruzamento, ouço alguém me alertando da curva, um motociclista passou por mim franzindo a testa. Então, me dei conta de que deveria ir para a esquerda e caí na real − eu não estava dirigindo um carro, embora não fosse tão ruim dirigir "meu carro" agora. Parei pelos carros estacionados, desci da bicicleta e fui guiando para chegar ao outro lado da rodovia. A tão planejada rota afundou como um barco furado, pois a rua do outro lado estava repleta de carros enfileirados no sinal e outros estacionados no acostamento, estrangulando-a ainda mais. Neste caso, o jeito foi seguir a rodovia mesmo - ainda bem que eu não era a única ciclista me aventurando por ali. Quando olhei para trás, havia um carro, e meu desespero fez apressar as pedaladas ainda mais. Logo adiante, pensei comigo:"Carros também devem respeitar ciclistas!". Portanto segui confiante de que mesmo me desviando do protocolo diário sobre evitar atividades muito radicais, não infringi nenhuma regra além das minhas. Foi então que, mais a frente, durante meu percurso, tive a estranha sensação de que minha bicicleta não tinha correntes. Sim! Estava tão leve e parecendo que eu fosse me atirar em qualquer muro ou carro que estivesse pela frente. Troquei uma marcha, em seguida outra marcha e...espere. O que é isso? Pedais mais leves ainda! Fiquei mais forte em sete dias?? Como é possível nenhuma marcha conseguir desafiar os meus pés? Pensei que atravessar a próxima ponte e passar entre outras bicicletas, carros desesperados, pessoas distraídas e carrinhos de bebê seria demais pra mim. Aqueles pedais pareciam evaporar embaixo das minhas sandálias azul petróleo. Diante de tanto, não me contive, não dava pra continuar, eu não me entendi com a "magrela". E revoltada a puxei pelo guidão e dei meia volta. Segui segurando-a com tanta raiva, que o sentimento transformou-se em angústia. Eu poderia ter ido. Se ela não estivesse tão estranha já estaria lá! Fui para casa pelo caminho da eternidade. Eu não avistava nunca o portão, dando assim mais tempo de curtir minha fossa. E finalmente cheguei em casa, sentei no sofá ainda vivendo a revolta de não ter ido. Foi quando dali olhei para varanda e avistei um guarda-sol disperso entre outras coisas, e logo pensei: "Acho que praia é o melhor pra mim". Me arrumei, peguei a canga, uma bolsa, o guarda-sol e parti em direção ao mar. O vento se desenhando com meus cabelos, sol queimando a pele e um mar azul lindo na minha frente: "Que sensação de ser infinito!". Entrei na água super gelada e pouco a pouco me banhava tentando me adaptar à temperatura. No primeiro mergulho subo e deparo bem na minha frente com uma tartaruga quietinha olhando para mim. Acho que sou a única pessoa no mundo a pensar que tartarugas podem querer morder nossos dedos do pé enquanto estamos distraídos no mar. Daí pensei, se ficaria onde estava ou me afastava, mas ela se foi.  E fiquei ali, esquecendo-me um pouco do meu medo de tartarugas, observando o horizonte e um barco que navegava. Este tinha muitas cores, todas elas vibrantes, uma enorme vela branca - daquelas que ficam quase azuis de tão claras com a luz do sol - e em baixo dele estava escito o nome de alguém que nem me lembro mais. O que importam os nomes? Só sei que as letras eram enormes "garrafais" pintadas à mão com uma tinta verde. E ele ia tão longe e à deriva fazendo o mesmo movimento que eu fazia quando as ondas tocavam. Naquele instante eu me sentia barco na imensidão de água e de dia.

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